Sabe-se que a má alimentação e o sedentarismo são fatores de risco associados à obesidade. Mas você sabia que substâncias químicas, os chamados disruptores endócrinos, presentes em cosméticos, produtos de limpeza e agrotóxicos também podem estar relacionados com a obesidade?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os disruptores endócrinos (EDCs – sigla em inglês para Endocrine-disrupting chemicals) são compostos que imitam ou interferem nas ações normais de todos os hormônios do sistema endócrino.
Essas substâncias causam alterações nas funções endócrinas, principalmente as sexuais e reprodutivas, ao atuarem substituindo, bloqueando, aumentando ou diminuindo a quantidade de hormônios em nosso organismo.
De acordo com a Endocrine Society, os hormônios têm papel fundamental para promover a regulação da resposta do nosso corpo para diferentes demandas nutricionais, como a fome, a saciedade, além de serem essenciais para o desenvolvimento corporal e cerebral saudável.
Os disruptores endócrinos armazenam-se na gordura corporal e algumas dessas substâncias são resistentes ao metabolismo humano e/ou capazes de se bioacumularem no solo e na cadeia alimentar.
Além da obesidade, os disruptores endócrinos também podem estar associados a alguns tipos de câncer, a exemplo dos cânceres de tireoide e próstata, bem como a problemas cognitivos e comportamentais, como a hiperatividade e déficit de atenção.
Onde são encontrados os disruptores endócrinos?
Nas últimas décadas, os estudos e, consequentemente, o conhecimento sobre os disruptores endócrinos têm avançado na comunidade científica.
Atualmente, os cientistas já possuem evidências do impacto dessas substâncias, desconhecidas até pouco tempo, em nossa saúde.
Por meio de biomonitoria, medição de substâncias químicas em fluidos e em tecidos corporais baseada em níveis detectáveis no sangue, na urina, no sangue do cordão umbilical foi constatado que quase a totalidade da população possui alguma carga química corporal.
Estima-se que aproximadamente 1000 substâncias químicas têm propriedade endócrina, assim estamos sujeitos ao contato com os desreguladores endócrinos tanto no ambiente doméstico, quanto ao ar livre, no ar que respiramos e também nos alimentos que ingerimos.
Podemos citar como os disruptores endócrinos mais conhecidos:
- DDT, Metiran, Dieldrin, Paration: presente em pesticidas, herbicidas e fungicidas;
- Benzeno: presente em gasolina, removedor, thinners;
- Chumbo: presente em baterias, primmers, tintas, pigmentos;
- Cádmio: presente em estabilizantes de plásticos, baterias e pigmentos;
- Mercúrio: presente em rios contaminados por garimpo, tintas, agrotóxicos;
- Estireno: presente em copos de plástico descartáveis;
- Bisfenol A ou BPA: presente no revestimento interno de latas, resinas epóxi e em diver tipos de plásticos;
- Ftalatos: presente em cosméticos como esmaltes de unhas, vernizes e inseticidas.
Além dos disruptores endócrinos já conhecidos pela ciência, suspeita-se da existência de inúmeros outros EDCs, bem como de substâncias químicas que nunca foram testadas.
Relação entre disruptores endócrinos e obesidade
Conforme aponta a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), tem se intensificado o número de pesquisas que relacionam os disruptores endócrinos com a epidemia global de obesidade.
Os estudos mostram que as substâncias químicas podem causar aumento de peso uma vez que interferem nos hormônios responsáveis por regular o peso, altera a atividade do sistema nervoso simpático, do metabolismo e a sensibilidade a neurotransmissores.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisaram e relacionaram uma série de substâncias químicas, as quais temos contato rotineiramente, com a obesidade.
Essas substâncias foram chamadas de obesogênicas e seriam responsáveis por uma reprogramação celular que promove o aumento do tamanho da célula de gordura, assim como o aumento do apetite.
Deste modo, os disruptores endócrinos dificultam a perda da gordura e diminuem a capacidade de queima calórica.
Os produtos analisados pelos cientistas incluem remédios, maquiagens e cosméticos, teflon de panelas, embalagens plásticas de alimentos, encanamentos de PVC e automóveis.
7 dicas para reduzir o contato com substâncias obesogênicas
Como os compostos obesogênicos, assim como outros disruptores endócrinos, estão presentes em diversos produtos que fazem parte da nossa rotina moderna é praticamente impossível não ter nenhum contato com eles.
Contudo, determinadas atitudes e estratégias podem colaborar para reduzir o contato com essas substâncias.
Confira a seguir sete dicas para diminuir o contato com compostos obesogênicos:
- Priorize uma alimentação natural ao invés de produtos industrializados e ultraprocessados, pois o contato com a embalagem (como plásticos) pode transferir alguns desses componentes aos alimentos que serão consumidos;
- Sempre que possível, prefira frutas, legumes e vegetais orgânicos, livres de agrotóxicos;
- Ao armazenar os alimentos, principalmente refeições mais ricas em gordura, evite o uso de plásticos, prefira sempre os potes de vidro;
- Também evite aquecer ou congelar alimentos em recipientes plásticos;
- Evite alimentos conservados em latas de metal, como refrigerantes e alimentos enlatados;
- Dê preferência a cosméticos e produtos de limpeza naturais;
- Considere abandonar o cigarro.
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Referências:
https://www.endocrino.org.br/media/uploads/PDFs/ipen-intro-edc-v1_9h-pt-print.pdf
https://abeso.org.br/desreguladores-endocrinos-e-o-impacto-na-epidemia-de-obesidade/
